Sou frequentador assíduo do centro da cidade. Diariamente converso com pessoas da portaria do condomínio da Galeria do Comércio. Bato papo longamente com os amigos do Salão Venito. Converso com os funcionários de várias lojas da galeria. Vou à lotérica Zebrão da Galeria Roth fazer minhas Megasena e Quina. E depois assumo minha mesa no "Café & Doce", com o gentil amigo Ildo e as gentis garçonetes para o saboroso café e bate-papo com dezenas de amigos.
Estou querendo dizer que, diariamente, falo com quase uma centena de pessoas. Ouço relatos. Queixas. Pedidos. Observo a vida desfilar no Calçadão. Ouço as mais variadas histórias da cidade sobre saúde, segurança, educação, desemprego. Ouço não só as histórias que me são contadas pelos amigos que sentam à minha mesa. Ouço - como quem não quer nada - as histórias das mesas vizinhas, contadas por estranhos. Que, às vezes, são discussões amorosas. Mas, outras vezes, são pungentes histórias de doenças incuráveis, velórios, morte, separações, divórcios. Como sou assíduo ouvinte da TV Justiça e ouço de cabo a rabo os longos votos dos 11 juízes do nosso ilustrado STF, eu fico imaginando como eles estão distantes da realidade. Brasília é uma ilha da fantasia.
Eles nem imaginam a vida real que existe e que eu assisto desfilar diante de mim diariamente no centro da cidade. As sôfregas indiazinhas de canelas finas - outrora donas do Brasil - pedindo moedinhas com seus olhos negros assustados. Vovós com máscaras cirúrgicas, alegando estar fazendo quimioterapia, pedindo dinheiro. Uma moça visivelmente drogada com seios à mostra pede pastel a todos e confessa ter feito sexo selvagem na noite anterior. O Brasil em preto e branco desfilando à minha frente, enquanto o cantor desafinado teima em cantar na parede da Caixa Econômica Federal: "Que país é este?" Como gosto de guardar documentos e recortes de jornal, dia desses levei para o "Café & Doce" o recorte de um artigo do meu amigo Carlinhos Costabeber, publicado em 23 de abril de 2011 e que, entre outras coisas, elencava os 13 problemas já existentes em nossa cidade naquela época:
- 1 - Trânsito infernal nas horas de pique;
- 2 - Rede de coleta de esgotos deficiente (metade da cidade não é atendida, sendo inexistente em toda a Camobi);
- 3 - Insuficiente cobertura vegetal (nunca houve preocupação com o plantio de árvores em nossas ruas);
- 4 - Estradas do interior, como para Santa Flora, que nunca receberam investimentos definitivos;
- 5 - Rede de internet que não privilegia áreas comerciais importantes;
- 6 - Obras do PAC que não tiveram sequência, como a perimetral do Cadena;
- 7 - Ruas importantes com piso asfáltico vencido ou simplesmente de terra-batida, como em Camobi;
- 8 - Calçadas públicas em estado lastimável (os caminhantes que o digam...);
- 9 - Poluição visual do centro da cidade, com paineis luminosos e placas das empresas e de prestadores de serviços;
- 10 - Problemas de vandalismo e depredação do patrimônio público e privado;
- 11 - Falta de fiscalização em todas as áreas de responsabilidade da prefeitura;
- 12 - Falta de diálogo entre as lideranças locais;
- 13 - Segurança pública que precisa do apoio de uma Guarda Municipal armada.
Passados sete anos do artigo do amigo Carlinhos, pergunto-lhes: quantos dos 13 problemas apontados foram resolvidos, pelos menos parcialmente?
Enquanto converso com meus amigos na cafeteria "Café & Doce", todos sempre me chamam a atenção para o imenso cartaz publicitário colocado na entrada do Calçadão já há quase dois anos. É um cartaz convidando a população para a Feisma de... 2017! É dose para elefante!